A Corrupção da Alma: Quando o Mal Não Vem de Fora
Costumamos dizer que somos o reflexo das companhias que escolhemos, das influências que nos rodeiam, das vozes que permitimos ecoar em nós. Mas e se, na verdade, a influência externa só encontra espaço quando já existe uma rachadura interna?
A alma humana não se corrompe de uma hora para outra. Ela adoece lentamente, às vezes desde a infância. Quando alguém é abandonado pelo afeto, quando é submetido à violência moral, psicológica ou física, quando é marginalizado pela própria família ou pela sociedade — algo ali se rompe. E essa ruptura cria uma abertura silenciosa. Um vazio existencial que clama por preenchimento.
É nesse exato ponto que o mal entra — não como uma entidade monstruosa e evidente, mas como um sussurro disfarçado de acolhimento. Quem já se sente excluído do bem aceita o convite do mal não por prazer, mas por sobrevivência simbólica. É o falso pertencimento. É o calor da toca do lobo quando o mundo lhe negou qualquer abrigo.
Assim, a influência que leva alguém a caminhos destrutivos não é um raio em céu azul. É o encontro entre duas almas já feridas, corrompidas em diferentes graus, que se reconhecem no abismo. O vício, a violência, a crueldade — tudo isso pode se tornar refúgio para quem já perdeu de vista a luz que um dia teve dentro de si.
Por isso, antes de apontarmos o dedo para quem se deixou influenciar, talvez devêssemos perguntar: o que feriu essa pessoa a ponto de tornar o mal uma escolha possível?
O caráter é como um jardim. Quando bem cultivado, resiste até às tempestades mais severas. Mas se ninguém cuidou da terra, se o abandono foi longo demais, o terreno se torna fértil — para o joio, não para o trigo.
E aqui está a provocação final: quem está verdadeiramente em paz com sua própria alma, não se deixa seduzir pelo mal. Mas quem já foi quebrado por dentro, está sempre em busca de algo — mesmo que seja sua própria ruína.
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